Lendas e mitos do Caminho de Santiago: o que não vem nos guias turísticos
O Caminho de Santiago não é apenas uma rota de peregrinação espiritual, mas também um lugar carregado de lendas e mitos que fascinavam os peregrinos ao longo dos séculos. Estas histórias, muitas vezes entrelaçadas com factos históricos, enriquecem a experiência de quem percorre esta antiga rota e adicionam um toque de mistério à jornada.
Uma das lendas mais conhecidas é a da “Milagre da Galinha” em Santo Domingo de la Calzada. Segundo a tradição, um jovem peregrino francês foi falsamente acusado de roubo e enforcado na cidade. A mãe do jovem, desesperada, rezou a Santo Domingo, pedindo que o seu filho fosse poupado. Após a execução, a história conta que o jovem ainda estava vivo, pendurado na forca. Quando as autoridades foram verificá-lo, encontraram-no a cantar e a rezar, enquanto uma galinha cozinhada que tinha sido servida na mesma refeição foi encontrada viva e a cantar na panela. Este milagre levou à libertação do jovem e à santificação de Santo Domingo. Em memória à lenda, mantém-se na Catedral um galo e uma galinha vivos e de penas brancas. Por cima do “Gallinero”, construído em 1445, conserva-se um pedaço de madeira da forca do Peregrino. Acredita-se que ouvir o galo cantar na catedral é sinal de sorte e de que a peregrinação será bem-sucedida.
Outro mito famoso é o da “Piedra de la Vieja” ou Pedra da Velha, localizada em Villafranca del Bierzo. Segundo a lenda, esta pedra tem poderes mágicos que garantem a saúde e a sorte aos peregrinos que a tocam. Acredita-se que a pedra tem uma história antiga ligada aos druídas e à tradição celta, e muitos peregrinos continuam a visitar este local para receber uma bênção especial.
A história da “Concha de Santiago” também é envolta em mistério. A concha de vieira, que se tornou um símbolo do Caminho, tem várias explicações sobre a sua origem. Uma das mais conhecidas é que a concha foi associada ao apóstolo Santiago, devido a uma lenda medieval em que o corpo do santo foi encontrado numa concha gigante, que ajudou a identificar o local do seu sepultamento. Este símbolo acabou por se tornar um guia visual importante para os peregrinos, sendo uma constante presença ao longo da rota.
Outra lenda intrigante é a do “Diabo de Lugo”. Segundo a história, em Lugo, uma antiga lenda afirma que um diabo foi transformado em pedra por um monge santo. Acredita-se que, se um peregrino passar pela pedra e ouvir um som estranho, este é o diabo a tentar escapar da sua prisão. Esta lenda continua a atrair visitantes curiosos e a inspirar histórias locais sobre o poder das forças sobrenaturais.
Finalmente, a Fonte dos Lameiros, em Triacastela, é particularmente encantadora. A fonte é conhecida por ser um local de descanso e reabastecimento para os peregrinos e, segundo a lenda, a sua água tem propriedades mágicas que podem trazer boa sorte e renovação. Muitos peregrinos param nesta fonte para beber ou lavar os pés, acreditando que receberão proteção divina e uma sensação de revitalização para o restante da sua jornada.
O Caminho de Santiago é, assim, uma tapeçaria rica em histórias insólitas e factos históricos que cativam e inspiram aqueles que o percorrem. Cada etapa da jornada está imbuída de tradições e mitos que acrescentam profundidade e cor à experiência dos peregrinos, ligando o passado e o presente de uma maneira única e fascinante. Ao caminhar por esta rota antiga, os peregrinos não apenas seguem um caminho físico, mas também uma trilha rica em lendas e mistérios que continuam a encantar e a inspirar.