Barcelos revive a Lenda do Galo com barro, teatro e tradição
A Lenda do Galo voltou a ser evocada em Barcelos no início de Junho, através de uma encenação no Paço dos Condes e de uma exposição de peças em barro na Torre Medieval. As iniciativas envolveram centenas de participantes e contaram com a colaboração de escolas, artistas e instituições locais, num esforço conjunto de valorização do património imaterial associado ao concelho.
A recriação teatral decorreu no dia 31 de Maio e teve como protagonistas os alunos da Escola Rosa Ramalho e da Universidade do Minho, com direcção técnica da companhia A Capoeira. O espectáculo foi apresentado ao ar livre, com dezenas de figurantes e assistência numerosa, e representou a Lenda do Galo com base numa abordagem cénica contemporânea. Paralelamente, cerca de quatro centenas de alunos de várias escolas do concelho participaram numa oficina de cerâmica, onde criaram figuras alusivas à história — galos, juízes, forcas, peregrinos — num exercício livre de interpretação visual. As peças estão reunidas numa exposição colectiva patente na Torre Medieval desde o início de Junho, numa iniciativa promovida pela Câmara Municipal e pela Galeria Municipal de Arte.
Nos dias 7 e 8 de Junho, o Teatro de Balugas apresentou a sua versão da Lenda do Galo, também no Paço dos Condes, recorrendo à modelação de barro em cena como elemento central da narrativa. O espectáculo combinou narração, manipulação de figuras e música ao vivo, com uma leitura marcada pelo humor. Segue agora para Balugães, onde será apresentado na Igreja Românica de São Martinho, um dos principais pontos de passagem do Caminho Português de Santiago. A programação dedicada à Lenda do Galo, promovida pelo Município de Barcelos, prolonga-se pelos meses de Julho, Agosto e Setembro.
A Lenda do Galo de Barcelos é uma das mais conhecidas do Caminho Português de Santiago. Segundo a tradição, algures na Idade Média, um homem foi acusado injustamente de roubo e condenado à forca. Antes da execução, pediu para falar com o juiz, que o recebeu durante uma refeição. O condenado jurou inocência e afirmou que o galo assado que estava no prato se levantaria e cantaria em prova disso. Contra todas as expectativas, o galo cantou. O juiz correu para travar a execução e o homem foi salvo.
Esta narrativa tem paralelismos com outra tradição mais antiga, associada à cidade de Santo Domingo de la Calzada, em Espanha. Nesse caso, o protagonista é um jovem francês em peregrinação a Compostela, também acusado injustamente e enforcado. A sua mãe, em desespero, rezou a Santo Domingo. O milagre ocorreu pouco depois: o rapaz foi encontrado vivo, a rezar na forca, e uma galinha já cozinhada começou a cantar dentro da panela. O episódio levou à libertação do jovem e à fama do santo. Ainda hoje, na catedral de Santo Domingo, há um galinheiro com um galo e uma galinha vivos, ambos de penas brancas, e acredita-se que ouvir o seu canto é sinal de bom presságio para quem segue a caminho de Santiago. Acima desse galinheiro — construído em 1445 — conserva-se um fragmento de madeira da forca onde o peregrino terá estado suspenso, mantido como relíquia do milagre.